Por: Marciel Nogueira
Era um dia quente e festivo em Natal. Sob a sombra generosa de uma árvore, a governadora Fátima Bezerra se encontrava como uma espécie de santa padroeira da Agricultura Familiar, recebendo seus fiéis em um evento que mais parecia uma celebração da utopia do asfalto e da política bem contada.
A Feira da Agricultura Familiar estava em pleno vapor: barracas, feijão verde, milho, tapioca, uma brisa que mais parecia um empurrãozinho da natureza, e uma orquestra de aplausos ao fundo. O clima estava para lá de festivo. Músicas de forró tocavam e o cheiro de feijoada exalava pelo ar, criando a atmosfera ideal para um debate sobre as estradas do RN.
Ah, as estradas! Se alguém ainda não sabia, a governadora iria deixar bem claro: as estradas eram a redenção do povo potiguar. Ou pelo menos assim pareciam ser no discurso da mestra.
Fátima estava lá, tranquila, sentada numa cadeira na sombra da árvore, mas com a postura de quem ocupa um trono. Ela sorria com graça enquanto ouvia, com atenção quase zen, os elogios e declarações de apoio de seus seguidores. Naquele momento, qualquer um poderia ter jurado que estava diante de um guru em sua sessão de oração. Cada líder político, prefeito, vereador ou aliado, fazia fila para se aproximar e soltar seu depoimento empolgado sobre as “grandes obras” que a governadora tinha a anunciar.
“Governadora, a estrada X vai mudar a vida do nosso povo!”, dizia um prefeito, com os olhos brilhando como se estivesse descrevendo a descoberta de um novo continente. Outro seguia: “A obra da estrada Y é um divisor de águas para a nossa região, vai garantir o progresso!”, e todos se entreolhavam como se estivessem compartilhando um segredo de Estado.
Fátima, com a paciência de um mestre espiritual, levantava a mão, sorria e dizia: “Sim, sim, tudo isso será realizado, estamos no caminho certo”, como se estivesse distribuindo bençãos aos seus devotos. E como boa mestre, ela sabia o que fazer para alimentar as almas sedentas por mais promessas. Entre um gole de suco de caju e uma pitada de feijão verde, ela segurava a palma da mão, erguia os olhos para o céu, e declarava: “A nossa estrada não é apenas de asfalto, é uma estrada de transformação!”, como se estivesse iluminando os espíritos presentes com uma revelação.
A cena, digna de qualquer retiro espiritual, tinha todos os elementos de uma grande performance política. Entre o toque de pandeiro e a música de fundo, o público se deliciava com os elogios exagerados e, claro, as promessas de que as estradas seriam tão boas quanto qualquer história de ficção que pudesse ser inventada. Fátima não apenas conduzia o evento, ela conduzia os corações dos presentes como se estivesse liderando uma marcha triunfal rumo ao futuro glorioso. E o futuro, claro, passava por uma estrada asfaltada e maravilhosa.
Porém, como toda boa crônica política, não demorava muito para que se percebessem as falhas no cenário idílico. Aquelas estradas, tão bem descritas, eram como um desenho de criança, colorido, cheio de curvas e montanhas, mas que, na realidade, ainda estavam distantes de qualquer concretização e qualidade descrita por ela. Mas nada disso parecia abalar os ânimos dos participantes. Entre um aplauso e outro, cada novo depoimento parecia tornar tudo mais convincente. Quem se importaria com o concreto, se as promessas pareciam tão certas? Afinal, quem precisa de asfalto quando se tem um bom prato de feijoada e uma música de forró para acompanhar?
Aquela cena, com Fátima no centro, mais parecia um ritual político: um culto da estrada que nunca chega, onde a cada palavra entusiástica e promissora, a governadora se tornava menos uma governante e mais uma figura mística, quase inacessível, cujo único propósito era manter a fé de seus seguidores. E como em todo culto, quem mais se destacava não era o que estava sendo feito de fato, mas o que estava sendo prometido. O resto? Bem, o resto era apenas um bom prato de comida, alguns aplausos e a certeza de que, se as estradas não estavam prontas, o que importava mesmo era a festa.
Ao fim do dia, com os rostos sorridentes e as barracas de feirantes se esvaziando, Fátima Bezerra continuava sua jornada como a governadora das promessas, sentada sob a árvore que, quem sabe, fosse o único lugar onde o asfalto ainda fosse perfeito.