A reforma das estradas do Seridó: O “melhor” vai começar… ou não

Foto: Carlos Costa

Por: Marciel Nogueira

Se você já passou pela RN-288, o famoso trecho que vai de Caicó a Cruzeta, sabe do que estou falando. Depois de tanto tempo esperando, as reformas finalmente chegaram, como se fossem uma espécie de milagre. Imagens de drones, com ângulos perfeitos e tudo mais, mostravam aquele asfalto novinho, brilhando ao sol, com um tom de perfeição que só a tecnologia de ponta poderia capturar. Mas, quando você realmente põe os pés (ou as rodas) no local, é como um encontro de casal após uma paquera na internet, quando uma das partes chega e… bem, a realidade é bem diferente da foto.

O que você esperava encontrar era uma estrada de primeira, com asfalto lisinho, aquele cheiro de novo que dá vontade de tirar foto e fazer stories no Instagram. Mas o que a realidade oferece é uma camada de asfalto fina, tão fina que, se você não prestar atenção, acha que está andando sobre um pedaço de papel manteiga, daqueles que usamos para fazer bolo. E o cheiro? Ah, o cheiro é de “coisa feita nas coxas”, aquela mistura de cimento fresco e meleca de criança correndo na chuva. A sensação é mais ou menos a de olhar para uma ferida em perna de criança: até parece que melhorou, mas, por dentro, continua tudo sensível, dolorido e pegajoso.

A obra é como fundo de rede velha. Sabe aquele pedaço que ainda está bom, mas o resto já está todo remendado, furado, rasgado, com algumas partes novas tentando se entrosar com o que já era antigo? Pois é, a estrada tem isso. Um pedaço de asfalto aqui, outro ali, e o resto ainda marcado pelas décadas de abandono. Aliás, tem trecho que parece que o asfalto foi esticado de tão fininho, e você se pergunta: “Será que com isso é mais fácil passar o carro ou mais fácil escorregar na curva?”

Claro, tudo isso foi feito com aquele toque de “criatividade”. Quando você olha para os trechos que receberam o tal do “asfalto novo”, já percebe o “detalhe”: um pedaço super lisinho aqui, outro todo ondulado ali, e o resto? Ah, o resto continua igual. Pura nostalgia do tempo em que a estrada era um campo de batalha para quem tivesse coragem de tentar atravessá-la sem perder um pedaço do carro.

A governadora, sempre otimista, disse que o “melhor vai começar”. Será? Espera-se que sim, mas eu não sou tão otimista assim. O “melhor”, ao que tudo indica, é um conceito bem elástico por aqui. Como quem promete que a festa vai ser maravilhosa, mas entrega um copo de suco e um pacote de biscoito. E por mais que o “melhor” ainda seja um sonho distante, eu aposto que quem viajou pela RN-288 nas últimas décadas vai ver que, sim, pelo menos agora você consegue ver o chão (em alguns lugares, claro).

Mas como dizem por aqui: “A estrada está na reforma esparadrapo, um pedaço aqui, outro alí, fica um pedaço velho acolá, mas a promessa de melhorar ainda está no caminho”. E enquanto a verdade não aparece, o asfalto vai ficando cada vez mais fino e a expectativa vai se diluindo, como uma ilusão criada por um photoshop malfeito. A verdade é que, enquanto o “melhor vai começar”, o que a gente espera, mesmo, é que pelo menos o pior tenha dado uma pausa. E quem sabe, um dia, essa estrada realmente se transforme naquilo que prometeram. Só espero que a reforma do asfalto não seja igual a promessa de político: uma ideia linda de se ver de longe, mas cheia de buracos quando a gente chega perto.