Biden deve a Putin união e ovação no Congresso americano

Presidente americano, Joe Biden, durante discurso do Estado da União nesta terça-feira (1) — Foto: Evelyn Hockstein/Pool/Reuters

Joe Biden deve a Vladimir Putin o raro momento de união no Congresso americano, quando foi ovacionado diversas vezes por democratas e republicanos pela dureza com que se referiu ao presidente russo. Seu primeiro discurso sobre o Estado da União coincidiu com a primeira guerra terrestre na Europa após a Segunda Guerra: Biden agiu como líder de uma aliança internacional, determinado a fazer o presidente russo pagar pela agressão a um país soberano.

A guerra de Putin fez o presidente americano mudar o rumo de sua narrativa e iniciá-la com a política externa, dominada pela batalha cruel em território ucraniano. Fez pelo menos 30 referências a Putin e aos russos. Anunciou o fechamento do espaço aéreo americano às aeronaves russas e a liberação de 60 milhões de barris de petróleo de reservas estratégicas, num esforço conjunto entre 30 países.

“Seis dias atrás, o russo Vladimir Putin procurou abalar as fundações do mundo livre pensando que poderia fazê-lo se curvar aos seus caminhos ameaçadores. Mas ele calculou mal”, atestou o presidente americano. Congressistas estavam sem máscaras, vestiam azul e amarelo ou portavam bandeirinhas para homenagear a Ucrânia.

Foram dez minutos de unidade bipartidária em que Biden bradou contra Putin e os oligarcas russos: “Ele não tem ideia do que está por vir”; “Putin está mais isolado do que jamais esteve”; “ao longo de nossa história, aprendemos esta lição: quando os ditadores não pagam um preço por sua agressão, eles causam mais caos. Eles continuam se movendo.”

Enfraquecido internamente e pressionado pelas eleições legislativas de novembro, Biden partiu então para a defesa de sua agenda doméstica, que dominou os outros 52 minutos do discurso e mudou também o clima da bancada de oposição.

O presidente parecia focado em seduzir os eleitores do centro: democratas moderados, independentes e republicanos que nutrem aversão a Donald Trump. Isso ficou claro quando lançou a chamada agenda de unidade com quatro objetivos: vencer a epidemia de opioides, enfrentar a saúde mental, especialmente dos mais jovens; apoiar os veteranos; e acabar com o câncer.

Ele defendeu a emenda Roe x Wade, mas não usou a palavra aborto. Vendeu novamente seu pacote de infraestrutura e os benefícios sociais do pacote de bem-estar e clima, que está empacado no Congresso.

Com 41% de aprovação, segundo a média das pesquisas, o presidente se mostrou sábio. Não perdeu tempo revolvendo feridas antigas, tentou evitar o partidarismo ou acusações a seus opositores. Não mencionou, sequer, a insurreição do Capitólio.

Este primeiro discurso sobre o Estado da União será lembrado mais pela ofensiva de Biden, transformado em orador apaixonado no confronto com Putin, do que pela defesa monocórdica de seu governo.

G1