Os primeiros criminosos a fugirem de uma unidade prisional federal de segurança máxima no Brasil têm histórico de indisciplina atrás das grades. Um levantamento feito pelo jornal ‘O Globo’ mostra que entre as transgressões disciplinares imputadas a Deibson Cabral Nascimento e a Rogério da Silva Mendonça incluem a descoberta de corte em um ferrolho da tranca de uma galeria, a identificação de cordas feitas com sacos plásticos na posse de um deles e até a localização de um medicamento Viagra, usado como estimulante sexual, enrolado em um lençol.
As irregularidades foram encontradas nas celas que eles ocupavam em unidades estaduais do Acre, antes de serem transferidos para Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte. As transgressões os levaram a sofrerem diversas punições, como isolamentos preventivos.
No caso do estimulante sexual, o Instituto de Administração Penitenciária (Iapen) do Acre abriu um procedimento, em novembro de 2021, para apurar como o medicamento chegou ali. O item foi encontrado após a revista no pavilhão 4 da Divisão de Estabelecimento Penal de Segurança Máxima e de Regime Disciplinar Diferenciado de Rio Branco.
Na ocasião, dois policiais penais encontraram na cela 412, onde estava Nascimento, um lençol estendido com dois comprimidos azuis na costura. Questionado sobre o medicamento, o detento assumiu ser dele, de acordo com relatório do caso.
Em outubro de 2020, o Iapen já havia comunicado ao juízo da Vara de Execuções Penais de Rio Branco o isolamento preventivo por dez dias de Nascimento. O documento aponta que na ocasião foi constatado um corte em um dos ferrolhos na grade da cela 201, “faltando pouco para que ele apartasse em duas partes”.
Em julho daquele mesmo ano, Nascimento já havia se envolvido em outra ocorrência prisional: por volta de 9h do dia 26, dois agentes penais recolheram “cordas de fabricação artesanal confeccionadas com saco plástico”, além de dois pedaços de fio na cela 1 do pavilhão 4. O material, bastante utilizado em presídios para esquentar líquidos, é popularmente conhecido como “rabo quente”.
Em agosto de 2022 foi a vez de Mendonça ser colocado em isolamento preventivo na unidade prisional do Acre pelo mesmo motivo: às 11h do dia 19, durante o procedimento de retorno dos presos do banho de sol do pavilhão 2, foi encontrado na cela 212, um “rabo quente”.
Apesar de dividir a cela com outro detento, Mendonça assumiu ser dono dos fios e foi encaminhado a Coordenação de Segurança do presídio.
Seis meses antes, ele já havia sido colocado em isolamento preventivo por dez dias por envolvimento em outra ocorrência: em 9 de fevereiro, um agente penal realizou o remanejamento de Mendonça para o pavilhão 1 do presídio após sua recusa em devolver dois livros que estavam em sua posse. Um deles era o romance “Cinquenta tons de liberdade”.
Tidos como criminosos de alta periculosidade, Nascimento e Mendonça estavam na penitenciária de Mossoró desde setembro de 2023, após transferência por participarem de uma rebelião no presídio Antônio Amaro, que resultou na morte de cinco detentos, três deles decapitados.
Desde a madrugada da última quarta-feira, profissionais das forças de segurança estaduais e federais realizam buscas na região para recapturá-los. Nesta sexta-feira, uma perícia da Polícia Federal mostrou que a fuga se deu a partir de uma ação planejada, com a utilização de equipamentos metálicos para a retirada de uma luminária e abertura de um buraco no teto.
O Globo