Geração distribuída: micro e pequenas empresas alugam usinas de energia solar para reduzir custos

Usina solar em Assu, no interior do RN — Foto: Divulgação

Os micro e pequenos empresários têm aderido a um nova tendência de mercado no Rio Grande do Norte: o aluguel de usinas solares, na chamada geração distribuída, em que cada empresa paga por uma fração da energia daquela usina. A motivação principal é baixar os custos com energia elétrica, além de ter uma energia renovável.

Essa é a segunda de uma série de reportagens produzidas pela Inter TV Cabugi sobre energias renováveis no RN (veja vídeo da reportagem).

Uma das empresárias que decidiu investir no aluguel foi Rayane Cunha, que tem um restaurante de alimentação saudável há 10 anos na Avenida Afonso Pena, em Natal.

Com luminárias, ar-condicionados, freezers, geladeiras, microondas, liquidificador, batedeira, além de uma câmara fria e um túnel de congelamento funcionando 24 horas por dia, o gasto médio com energia elétrica chegava a R$ 7 mil por mês.

“O consumo da gente é muito grande, porque a gente tem uma estrutura de câmara fria, de túnel de congelamento, então o consumo é muito alto. E eu sempre procurei inovar, buscar por alternativas mais sustentáveis”, explicou a empresária.

Uma rede de pizzaria, com cinco unidades em Natal e duas em Parnamirim, também optou pela mudança. Isso porque possui muitos equipamentos que consomem energia elétrica, o que eleva a conta no fim do mês.

“O nosso gasto das cinco unidades de Natal girava em torno de R$ 20 mil e R$ 22 mil“, contou Elizângela Pessoa, administradora da pizzaria.

O restaurante e a pizzaria decidiram usar a energia produzida em usinas solares, que fazem parte da chamada “geração distribuída”.

Geração distribuída

A geração distribuída é uma modalidade ideal para a indústria e o comércio, bares e restaurantes e até condomínios. O formato permite que qualquer pessoa, ou empresa de pequeno ou médio porte, produza sua própria energia a partir de fontes renováveis, sendo de uma usina própria ou alugada.

O aluguel das usinas é uma nova tendência de mercado, especialmente pra quem não tem espaço pra montar uma usina solar própria ou por falta de orçamento.

“Cada consumidor de energia tem o direito a produzir a pópria energia e usar tanto no lugar onde está instalada como em outros endereços, o que possibilita pra que quem não tem um telhado ou uma área tão boa possa instalar em uma área remota, em uma fazenda, casa de praia, ou outro local”, explicou o presidente da Associação Potiguar de Energias Renováveis (Aper), Cássio Maia.

“E que possa usar essa energia em qualquer outro imóvel cuja conta de energia esteja em seu nome, dentro do RN, dentro da área de concessão, que no nosso caso é a Cosern”.

Usinas investem

A Atua Energia, que está presente em 10 estados e tem 85 usinas no interior do estado, está investindo em oito plantas de geração distribuída – uma dela em Assú, no interior do RN. O investimento é da ordem de R$ 110 milhões, gerando 320 empregos diretos em dois anos.

A principal vantagem do aluguel de usinas solares são as facilidades, já que não tem financiamento, burocracia, nem obras a fazer.

“A gente constrói a usina, toda energia produzida é entregue e você pode locar uma fração dessa usina, ou seja, uma fração corresponde a sua conta de pessoa jurídica. E todo crédito que essa fração de usina gerar, vai ser pra sua empresa, sua empresa continua consumindo energia normalmente sem nenhuma interrupção, troca, e no final do mês o seu consumo é automaticamente descontado do crédito geral”, explicou Bruna Fontes, diretora da Atua Energia.

“Não tem obra, instalação de placa, necessidade de terreno, telhado e principalmente perda na capacidade de geração, porque hoje as placas solares perdem de 1% a 2% ao ano. Contratando a usina você tem certeza de que você vai receber”, completou.

Aderir à energia da usina solar na geração distribuída ajuda ainda a empresa a economizar e reinvestir em outras áreas, acredita o presidente da Federação do Comércio do RN (Fecomércio), Marcelo Queiroz.

Imagem aérea da usina solar de Assu, no interior do RN — Foto: Divulgação
Imagem aérea da usina solar de Assu, no interior do RN — Foto: Divulgação

“Nós vivemos um momento de dificuldade, todas as empresas.Tudo que você consegue economizar você reinveste na empresa e, em determinados setores, ele é o principal custo de insumo. Então, na hora que você tem a oportunidade de, sem fazer o investimento, ter uma economia, você pode reinvestir em seus produtos, capacitação dos seus funcionários, como também em novos estabelecimentos, novos funcionários”, diz.

Aqui no estado, as empresas tem feito parcerias para facilitar a adesão de empresas do comércio, de bens e serviços. Outra parceria foi com a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), que conta com 2 mil associados na capital potiguar.

“Beneficiar o nosso associado para que ele possa reduzir o custo, vender mais e ganhar mais. É esse o nosso intuito”, explica José Lucena, presidente da CDL Natal.

Setores passam a aderir

No setor industrial, o ramo da panificação foi o primeiro a aderir à ideia. Com investimento zero na adesão, o Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria pretende estimular os administradores das 60 padarias associadas a produzir pão, pizza e outras delícias, pagando menos, e usando energia limpa.

“Forno elétrico é o que dá melhor qualidde do pão. Então com essa energia renovável, solar, você tem o rendimento melhor do produto e um gasto menor”, falou Ivanaldo Maia, presidente do sindicato.

Bares e restaurantes também podem reduzir em até 20% o consumo mensal de energia elétrica usando a energia solar.

Placa de energia solar — Foto: Divulgação
Placa de energia solar — Foto: Divulgação

“Empresas também perderam o poder de crédito, porque em alguns casos existem linhas de financiamento específicas pra esse tipo de energia, mas muitas vezes devido ao endividamento que foi cultivado durante a pandemia ele não tem o poder de pegar esse crédito nos bancos, instituições financeiras”, pontuou Luiz Segundo, conselheiro da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do RN (Abrasel).

“Então com essa parceria as empresas conseguem ter até 20% de economia de energia sem necessitar desses pré-requisitos”.

Barateando a energia, a prioridade é atender micro e pequenas empresas, para que elas se tornem mais competitivas.

“Algumas pessoas preferem ficar em pousada que respeitam o meio ambiente, isso é o futuro. Então é um diferencial competitivo do tamanho do mundo”, acredita o superintendente do Sebrae-RN, Zeca Melo.

Momento ideal

Especialistas na área garantem que a hora de aderir à energia solar é agora, antes de entrar em vigor a lei 14.300, que institui o marco legal da microgeração e minigeração distribuída. A lei aprovada no começo do ano passa a valer em janeiro de 2023 com uma taxação para novos projetos em energia solar.

‘”Ele tem uma diferença entre energia e rede. É como se fosse um cano que passasse a água. A energia é a água. Pra você transportar a água, você precisa do cano. É a mesma coisa com a energia. Pra você transportar energia, você precisa do fio. Hoje o incentivo que tem é você não pagar o custo do cano, do fio. E a partir de janeiro, a cada ano vai ser aumentado um pouquinho que você vai pagar o cano, até chegar lá em 2045, que todo mundo vai pagar o cano separado da água, a energia separada do fio”, explicou Carlos Mattar, superintendente de regulação da Aneel.

“Você diminui em 28% o retorno de investimento. É por isso que esse ano esse mercado está tão aquecido”, pontuou Bruna Fontes, diretora da Atua Energia.

G1RN