Investigadores calculam que 2,5 mil toneladas de petróleo cru foram derramadas no mar; PF ainda não sabe se houve vazamento ou despejo


Navio suspeito está em alto mar e é monitorado pelas autoridades brasileiras. Segundo o MPF, ainda não é possível dizer se novas manchas de óleo chegarão à costa brasileira. Trabalho de limpeza na praia dos Carneiros, em Pernambuco
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM/ESTADÃO CONTEÚDO
Os investigadores estimam que 2,5 mil toneladas de óleo foram derramados no oceano pelo navio Bouboulina, de bandeira grega, suspeito do crime ambiental que atingiu praias dos nove estados do Nordeste. A Polícia Federal ainda não sabe, entretanto, se o houve um acidente ou vazamento do navio. Uma operação foi inciada pela PF na manhã desta quinta-feira (1º) para cumprir mandados na sede da empresa Lachmann Agência Marítima, responsável pelo navio.
“Nós temos a prova da materialidade e indícios suficientes de autoria. O que nos falta são as circunstâncias desse crime, se é doloso, se é culposo, se foi um descarte ou vazamento”, afirmou o delegado da Polícia Federal no Rio Grande do Norte, Agostinho Cascardo.
De acordo com a procuradora-chefe da Procuradoria da República no Rio Grande do Norte, Cibele Benevides, ainda não é possível dizer se novas manchas chegarão à costa potiguar. “Esse óleo que chegou na costa brasileira não representa todo o óleo que foi derramado. Uma parte do óleo pode ser evaporada, em torno de 40%; uma parte pode ficar decantada e vir devagar para a costa brasileira. Então, a gente ainda não tem como afirmar que parou, que cessou, ou quando vai cessar. (…) Estima-se que a mancha original foi de 2,5 mil toneladas de petróleo cru”, afirmou.
Segundo os investigadores, a embarcação é legal e o cumprimento dos mandados visa levantar documentações e informações sobre os dados da carga, tripulação, e o que aconteceu. O navio ainda está em alto mar.
“O navio está sendo monitorado e se dirigindo provavelmente pra Costa da África. Assim que ele aportar a gente tenta conseguir mais informações.No momento o foco são as empresas de representação do navio aqui (no Brasil). As empresas não são suspeitas, elas são simplesmente alvo na busca de documentos que possam ajudar a identificar o que aconteceu, mas elas em si não são investigadas”, reforçou a procuradora.
Segundo a PF, a embarcação deixou a Venezuela no dia 18 de julho e a primeira aparição da mancha ocorreu dia 29, às 11h55 da manhã. “A partir daí a mancha começa a se espalhar e se dirigir a Oeste”, pontuou o delegado.
Para os investigadores, apenas um navio mercante, carregado de petróleo, poderia ter deixado essa mancha, ressaltou o delegado.
Operação Mácula
A Polícia Federal iniciou a Operação Mácula, nesta sexta-feira (1º), para cumprir mandados de busca e apreensão na sede da empresa Lachmann Agência Marítima, responsável pelo navio suspeito de derramar ou vazar o óleo que atingiu o litoral nordestino. Os mandados foram expedidos pela Justiça Federal do Rio Grande do Norte e são cumpridos no Rio de Janeiro.
O navio suspeito, de bandeira grega pertence à Delta Tankers LTD, cujo agente marítimo em 2019 no Brasil foi a Lachmann. De acordo com a Marinha, a inteligência da PF concluiu que “não há indicação de outro navio (…) que poderia ter vazado ou despejado óleo, proveniente da Venezuela”.
Outra empresa, Witt O Brien’s, que mantém relações comerciais com a Lachmann, também é alvo da operação da PF.
As investigações mostram que:
Em 15 de julho, o navio-tanque grego atracou no Puerto José (Venezuela) e foi carregado com petróleo durante três dias
Em 29 de julho, imagens de satélite detectaram derramamento de óleo a 733,2 km a leste do estado da Paraíba
O sistema de rastreamento da embarcação estava ligado e confirma a passagem pelo ponto de origem do óleo
O navio fez uma parada na África do Sul (a data não foi informada)
O destino final é Singapura, no Sudeste Asiático
Initial plugin text