Janja, o risco da impulsividade e a diplomacia que faltou

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Em tempos de polarização exacerbada e guerra digital, um simples palavrão pode ter consequências inimagináveis. Quando Janja, a primeira-dama do Brasil, desferiu um “fuck you” contra Elon Musk durante sua participação no painel do G20 Social, certamente muitos se surpreenderam. A reação da esposa do presidente Lula contra o bilionário dono do X (ex-Twitter), ao afirmar que “não tem medo” dele, é uma demonstração clara de que as emoções, por vezes, ultrapassam a razão — e, no caso de uma primeira-dama, a diplomacia.

Janja tem o direito de expressar suas opiniões, como qualquer outro cidadão, mas esqueceu que seu cargo exige muito mais responsabilidade. Ao usar palavras ríspidas e de baixo calão, a primeira-dama não apenas se posiciona de forma impensada como também coloca em risco a imagem do próprio governo, que deveria estar mais preocupado com questões cruciais, como a regulamentação das plataformas digitais e o combate à desinformação, e menos com desafetos pessoais.

Primeira-dama é um cargo simbólico, que carrega consigo um peso maior do que qualquer manifestação individual. Ela não é uma simples ativista ou cidadã comum — ela ocupa um posto de visibilidade e representação do Brasil para o mundo. Quando Janja faz uma declaração agressiva como essa, sua fala extrapola os limites de um simples posicionamento político e se transforma em um espetáculo de animosidade. A atitude, infelizmente, acaba desviando o foco do que realmente importa: o debate sério sobre as plataformas digitais e a regulação da informação na internet.

Não estamos falando de um discurso de rua ou de uma interação em um grupo privado de WhatsApp. Estamos falando de uma participação em um evento internacional, onde sua palavra representa não só seu ponto de vista, mas também o governo brasileiro, a política externa e a imagem do país perante líderes e empresários globais. Janja, ao perder a linha e partir para o insulto, acaba jogando gasolina no fogo da polarização política, um fenômeno que já afeta o Brasil de forma devastadora.

A reação de Musk — que afirmou que “eles vão perder a próxima eleição” — é a consequência previsível desse tipo de embate. Enquanto o governo brasileiro tenta defender a necessidade de regulamentação da internet, uma declaração como essa apenas reforça a narrativa de que o país está envolvido em uma guerra de egos, em vez de se concentrar em uma solução pragmática para os problemas reais da sociedade digital.

O fato é que, ao agredir Musk verbalmente, Janja contribui para uma dinâmica de confrontação que enfraquece o governo. O que deveria ser uma pauta técnica e com foco em políticas públicas se transforma em um espetáculo de ataques pessoais. A oposição e os críticos do governo, inclusive no exterior, podem usar essas declarações para pintar o governo brasileiro como frágil, desequilibrado e, mais preocupante ainda, como um governo que não sabe lidar com as grandes questões globais de forma madura e construtiva.

O mais irônico dessa história toda é que o tema central do painel do G20, onde Janja fez sua declaração, era justamente o combate à desinformação e a necessidade de regulamentar as plataformas digitais. No entanto, ao insultar Musk, Janja acaba sendo vítima de sua própria retórica, alimentando ainda mais a desinformação e o caos na internet. As plataformas digitais, que ela própria critica, acabam se tornando palco de um embate pessoal que, ao invés de promover soluções, só agrava a polarização.

Se o objetivo do governo é transformar a regulação digital em uma agenda legítima e equilibrada, é fundamental que seus representantes, especialmente figuras como Janja, saibam adotar uma postura mais diplomática e ponderada. O palavrão, por mais genuíno que tenha soado em um momento de frustração, não ajuda em nada a avançar nas questões de fundo. Pelo contrário, apenas reforça a narrativa da briga de vaidades.

Ao final, o grande perdedor dessa história toda não será apenas o governo, mas o próprio país, que verá seu nome atrelado a mais um episódio de confronto público desnecessário. Em um mundo onde as palavras têm tanto poder, é preciso ter cuidado com o que se diz, especialmente quando se ocupa um cargo de tanta responsabilidade. Janja, ao esquecer de seu papel institucional, corre o risco de transformar um debate sério sobre as plataformas digitais em uma disputa trivial de egos. E o Brasil não pode pagar esse preço.