Justiça Federal em Sergipe realiza audiência sobre ação civil pública do MPF em relação ao derramamento de óleo no litoral nordestino


Partes têm 10 dias para apresentar manifestações sobre a proposta apresentada. Audiência concliliatória na Justiça Federal em Sergipe
Anna Fontes/TV Sergipe
Na tarde desta quarta-feira (30), a Justiça Federal em Sergipe realizou audiência conciliatória sobre a ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal (MPF) contra a União, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), exigindo que o governo federal adote um plano de emergência sobre a situação das manchas de óleo em todos os nove estados da Região Nordeste, onde 282 locais já foram atingidos.
Os réus alegaram que precisavam analisar com mais aprofundamento e acordaram um prazo de 10 dias corridos, sem prejuízo da juíza titular da 1ª Vara Telma Maria Santos Machado proferir a decisão. “As ações estão sendo feitas, se estão sendo suficientes ou não, é isso que eu preciso averiguar. A parte dos documentos que estou recebendo e as minhas decisões posteriores devem expressar isso”, afirmou a magistrada.
Quase 900 toneladas de óleo já foram recolhidas do litoral sergipano, diz Adema
“Durante audiência nós tivemos a informação da decisão do Tribunal Regional Federal de que, parcialmente, acolhe o nosso recurso. E determinou que o Comitê de Suporte, como está na regulamentação, tenha um representante de cada estado do Nordeste, o que é muito positivo. Hoje foi um dia de muito esforço com a finalidade de encontrar uma solução pacífica. A União vai analisar nos próximos dias, mas em princípio já se colocou à disposição para que o Ministério Público Federal possa, nos nove estados, participar ativamente do que está sendo realizado e, mais do que isso, levar todas as demandas”, explicou o procurador da República em Sergipe Ramiro Rockenbach.
Para o contra-almirante e chefe maior do comando de operações navais, Alexandre Rabelo de Faria, ainda é cedo para dizer que a situação está controlada. “É impreciso dizer que está se aproximando o fim. Porque a gente não sabe a origem, onde foi exatamente encontrado e que volume foi descarregado no mar. O que é importante no meu modo de ver é estarmos mobilizados como estamos municípios e estados, as instituições, a Marinha, para que uma vez chegada uma mancha na praia nós possamos rapidamente retira-la, e evitar que essa contaminação se prolongue”, disse.
Ainda de acordo com ele, uma grande operação será realizada no Nordeste no mês de novembro. “Nós temos anualmente uma operação complexa com vários navios, muitos militares. Essa operação estava prevista para o litoral Espírito Santo e foi redirecionada para o Nordeste. O foco será o controle de área marítima, mas também em terra com ações de recuperação das áreas sensíveis, o que chamamos de uma grande ação cívico-social na área ambiental”, disse.
A audiência contou com representantes de diversas instituições, dentre elas o MPF; Advocacia-Geral da União (AGU); Ibama; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa); e Defesa Civil.
Recurso de ação coletiva
Manchas voltaram a se encontradas na praia de Pirambu
Adema/SE
O Ministério Público Federal formalizou, na segunda-feira (28), no Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5), um recurso da ação coletiva, ajuizada no dia 18 de outubro, para que o governo federal adote um plano de emergência sobre a situação das manchas de óleo em todos os nove estados do Nordeste.
Segundo o MPF, o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo (PNC), que prepara o país para casos como o que afeta o litoral, não foi acionado e nem está em execução, conforme os termos da legislação.
Entre os deveres de quem seria o coordenador operacional do PNC e que, de acordo com o MPF, não estão sendo cumpridos, estão:
1 – Garantir, em ordem de prioridade, a segurança da vida humana, a proteção do meio ambiente e a integridade das propriedades e instalações ameaçadas ou atingidas pela descarga de óleo;
2 – Assegurar:
– O apoio logístico e as condições de trabalho adequadas para o pessoal envolvido nas ações de limpeza ambiental a proteção das áreas ecologicamente sensíveis;
– O resgate da fauna por pessoal treinado e seu transporte para centros de recuperação especializados; a adequação da coleta, do armazenamento, do transporte e da disposição dos resíduos gerados no incidente de poluição por óleo;
– O emprego das tecnologias e metodologias de resposta, em conformidade com a legislação;
3 – Efetuar relatório das ações de comunicação social e institucional realizadas, que conterá os registros de comunicação ao poluidor, às autoridades, às comunidades envolvidas e ao público em geral, sobre o andamento das operações e desdobramentos do incidente, e as ações de recuperação previstas para a área atingida.
O recurso é referente a uma ação ajuizada na Justiça Federal no último dia 18 de outubro. Para o MPF, a União está sendo omissa ao protelar medidas protetivas e não atuar de forma articulada no Nordeste, dada a gravidade do acidente e dos danos causados ao meio ambiente.
O documento destaca a responsabilidade, diretrizes e procedimentos para o governo responder a vazamentos de petróleo como foco em “minimizar danos ambientais e evitar prejuízos para a saúde pública”. A multa diária pedida, em caso de descumprimento, é de R$ 1 milhão.
A ação foi assinada pelos procuradores Ramiro Rockenbach e Lívia Tinôco (Sergipe), Raquel de Melo Teixeira (Alagoas), Vanessa Cristina Gomes Previtera Vicente (Bahia), Nilce Cunha Rodrigues (Ceará), Hilton Araújo de Melo (Maranhão), Antônio Edílio Magalhães Teixeira (Paraíba), Edson Virgínio Cavalcante Júnior (Pernambuco), Saulo Linhares da Rocha (Piauí) e Victor Mariz (Rio Grande do Norte).
O que diz a Advocacia-Geral da União (AGU)
O Plano Nacional de Contingência já está instaurado e os órgãos e unidades responsáveis pelo controle marinho e do meio ambiente, como Marinha e Ibama, entre outros, estão engajados nas atividades de limpeza, contenção e monitoramento das manchas de óleo.
A AGU acompanha todas as demandas judiciais envolvendo a questão, dando o suporte jurídico aos órgãos federais envolvidos.
Funcionários da Prefeitura de Maragogi, no estado de Alagoas, e voluntários trabalham na retirada de óleo da praia do Peroba, nesta sexta-feira (18).
Ana Leal/O Fotográfico/Estadão Conteúdo/Arquivo
Primeira ação do MPF sobre as manchas
Essa é a segunda ação pelo MPF no caso das manchas. Na primeira, ajuizada pela procuradoria em Sergipe na sexta-feira (11), o pedido era que que o Governo Federal tomasse medidas efetivas de proteção no litoral de Sergipe, em até 24 horas. No dia seguinte, um juiz federal substituto decidiu dar 48h para a União proteger a região, porém, a juíza titular, Telma Maria Santos Machado suspendeu a ação quatro dias depois e determinou novo prazo para comprovação de eficácia de barreiras contra óleo. Relatórios foram entregues à Justiça nesta quinta-feira (17) por órgãos ambientais.
Após análise do relatório técnico dos órgãos envolvidos no combate ao avanço das manchas de óleo no litoral sergipano, a juíza federal Telma Maria Santos Machado determinou, nesta sexta-feira (18), que a União e o Ibama devem ampliar o quantitativo de pessoal para limpeza das áreas afetadas. E que a utilização das barreiras será determinada de acordo com o comando dos órgãos que atuam no desastre ambiental.
Ficou determinado ainda, que a cada cinco dias seja apresentado a Justiça Federal a evolução do estudo e providências adotadas, para que o juízo possa avaliar ou não a aplicação de medidas impositivas. Além da manutenção do efetivo de pelo menos 120 pessoas para o monitoramento e limpeza dos locais, onde forem registradas as manchas. [O efetivo pode contar com 60 pessoas fixas e outras 60 que podem ser remanejadas para estados onde a situação seja mais grave].
Situação em Sergipe
Todas as 17 praias sergipanas foram afetadas e também apresentaram reaparecimento das manchas após serem limpas. O estado decretou situação de emergência no dia 5 de outubro, reconhecida pelo governo federal na segunda-feira (14) e publicada nesta terça-feira (15) no Diário Oficial da União (DOU).
Mancha de óleo na Praia dos Artistas, em Aracaju, dia 14 de outubro
Igor Reis/Arquivo
Também na quinta-feira, o Departamento Estadual de Proteção e Defesa Civil da Secretaria de Estado da Inclusão Social (Depec/SEIT), encaminhou o Plano Detalhado de Resposta à Secretaria Nacional de Defesa Civil solicitando R$ 22 milhões para restabelecer a costa sergipana. O governo liberou R$ 2,5 milhões.
Neste sábado (12) foram instalados 75 metros de boias absorventes por equipes da Adema no Rio Vaza-Barris, em Aracaju
Adema/Divulgação/Arquivo
Reforço da contenção
Entre as medidas definidas nos relatórios pelos órgãos ambientais na quinta-feira, está a instalação de mil metros de boias em locais que ainda estão sendo analisados como prioridade. O material que deverá ser instalado em pontos estratégicos de Sergipe foi disponibilizado pela Petrobras. Um outro ponto discutido durante a reunião foi o risco da colocação de boias para a navegação nos rios do estado.
Polêmica sobre as barreiras
No último sábado (12), o governo sergipano iniciou, no rio Vaza-Barris, a instalação de barreiras alugadas pelo valor de quase R$ 7 mil por dia. A administração estadual esperava que a Petrobras pudesse enviar equipamento de proteção para conter a mancha, mas as barreiras de proteção não chegaram.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que veio a Aracaju no dia 7 de outubro para avaliar a situação, afirmou, na segunda-feira (14) que iria cumprir a determinação da Justiça Federal e colocar as barreiras de contenção em rios de Sergipe, mas alegou que elas não seriam eficientes para conter as manchas de óleo. O Ibama seguiu a afirmação. Já a Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), disse que a escolha pelo material ocorreu com avaliação técnica e que a eficácia é comprovada.
Análise das manchas
Na quarta-feira (16), Ricardo Salles, esteve no campus da Universidade Federal de Sergipe (UFS), no município de São Cristóvão (SE) onde se reuniu com o professor do Departamento de Química e coordenador do laboratório de Petróleo e Biomassa, Alberto Wisniewski Jr., responsável pela análise do óleo coletado nas praias do litoral sergipano.
“A opinião do que nós vimos aqui é a hipótese de que esse óleo dos barris tenha relação com o óleo encontrado nas diversas manchas encontradas no litoral. E que, portanto, dão mais um elemento para a investigação que está sendo muito bem feita pela Marinha do Brasil, sobre a origem desse fato que é o derramamento de óleo no litoral”, disse o ministro.
Initial plugin text